Conteve um grito ao olhar as próprias mãos, o sangue escorria abundantemente, dirigiu-se ate a cozinha e colocou a mão embaixo do jato da torneira ate o sangue estancar e enfaixou o ferimento com um pano de prato. "Merda", xingava mentalmente enquanto procurava o celular, discou o número já decorado e esperou impacientemente que a voz do outro lado atendesse.
-Eduarda? A voz do homem soou quase histérica
-É..sou eu, aconteceu de novo, dessa vez foi mais profundo..pode vir aqui?
Phillipe entrou no apartamento aparentemente tranquilo tendo em mãos uma bolsa preta com instrumentos para primeiros socorros e pequenas cirurgias, Eduarda sempre que o via com a infame bolsinha ria, era quase impossível imagina-lo como enfermeiro. Ela abriu a porta, vê-lo ali, de pé, era tranquilizador. Ele a seguiu ate a cozinha em silêncio e só quando ela desenfaixou o corte ele perguntou:
-Mais visões?
Ela suspirou
-Sim..
-Pó de novo?
-Sim
Ela não olhava nos olhos dele, não se saber se por vergonha ou medo. Ele limpou o corte, em silêncio, contendo a raiva que sentia. O corte fora realmente profundo, preparou todo o esquipamento e fez os pontos, logo depois fez um curativo e a encarou nos olhos. Ela recuou, odiava aquele olhar acusador dele.
-Você precisa parar...
Ela bufou de raiva como sempre fazia
-Não sou viciada..
-Ainda não, mas pode ficar. Ele retrucou com veemência.
E mais uma vez ela sentiu o sangue ferver, ele, mais do que ninguém sabia do que estava falando. Phillipe estava com 32 anos e passou 3 anos da sua vida passou internado em uma clinica de reabilitação, tudo o que ele temia era vê-la na mesma situação, ele não sabia explicar, mas simplesmente sentia-se ligado a ela mas aos poucos foi descobrindo que ama-la era antes de tudo um exercício de paciência. Ele respirou fundo e soltou temendo a resposta :
-O que você desenhou dessa vez?
-Um rosto. Nos olhos dela havia pânico.
-Um rosto? Ele repetiu incrédulo
-Um rosto de alguém que não conheço.
Caminhou com ela ate o quarto, no chão, em sangue, havia um rosto masculino, muito bem desenhado, Phillipe estremeceu, de todas as visões que a garota tivera ate ali, aquela, sem dúvida, é a de longe mais realista e assustadora.
-Phillipe..eu tô com muito medo, quem é esse cara?
Ele se aproximou dela, abraçando-a
-Seja quem for, não vai te fazer mal.
Phillipe seguiu para casa, sentia que algo havia lhe escapado, um detalhe, caminhou e parou bruscamente de frente a uma banca de jornais, olhou os jornais e ao fixar sua atenção em um jornal em específico sentiu todo seu medo vir a tona: Ali estava, o rosto que Eduarda desenhara.