"Old loves they die hard
Old lies they die harder"

segunda-feira, 31 de março de 2014

O rosto


   
  Conteve um grito ao olhar as próprias mãos, o sangue escorria abundantemente, dirigiu-se ate a cozinha e colocou a mão embaixo do jato da torneira ate o sangue estancar e enfaixou o ferimento com um pano de prato. "Merda", xingava mentalmente enquanto procurava o celular, discou o número já decorado e esperou impacientemente que a voz do outro lado atendesse.
-Eduarda? A voz do homem soou quase histérica
-É..sou eu, aconteceu de novo, dessa vez foi mais profundo..pode vir aqui?

   Phillipe entrou no apartamento aparentemente tranquilo tendo em mãos uma bolsa preta com instrumentos para primeiros socorros e pequenas cirurgias,  Eduarda sempre que o via com a infame bolsinha ria, era quase impossível imagina-lo como enfermeiro. Ela abriu a porta, vê-lo ali, de pé, era tranquilizador. Ele a seguiu ate a cozinha em silêncio e só quando ela desenfaixou o corte ele perguntou:

-Mais visões?

Ela suspirou

-Sim..

-Pó de novo?

-Sim

Ela não olhava nos olhos dele, não se saber se por vergonha ou medo. Ele limpou o corte, em silêncio, contendo a raiva que sentia.  O corte fora realmente profundo, preparou todo o esquipamento e fez os pontos, logo depois fez um curativo e a encarou nos olhos. Ela recuou, odiava aquele olhar acusador dele.

-Você precisa parar...

Ela bufou de raiva como sempre fazia

-Não sou viciada..

-Ainda não, mas pode ficar. Ele retrucou com veemência.

E mais uma vez ela sentiu o sangue ferver, ele, mais do que ninguém sabia do que estava falando.  Phillipe estava com 32 anos e passou 3 anos da sua vida passou internado em uma clinica de reabilitação, tudo o que ele temia era vê-la na mesma situação, ele não sabia explicar, mas simplesmente sentia-se ligado a ela mas aos poucos foi descobrindo que ama-la era antes de tudo um exercício de paciência. Ele respirou fundo e soltou temendo a resposta :

-O que você desenhou dessa vez?

-Um rosto.  Nos olhos dela havia pânico.

-Um rosto? Ele repetiu incrédulo

-Um rosto de alguém que não conheço.

   Caminhou com ela ate o quarto, no chão, em sangue, havia um rosto masculino, muito bem desenhado, Phillipe estremeceu, de todas as visões que a garota tivera ate ali, aquela, sem dúvida, é a de longe mais realista e assustadora.

-Phillipe..eu tô com muito medo, quem é esse cara?

Ele se aproximou dela, abraçando-a

-Seja quem for, não vai te fazer mal.

Phillipe seguiu para casa, sentia que algo havia lhe escapado, um detalhe, caminhou e parou bruscamente de frente a uma banca de jornais, olhou os jornais e ao fixar sua atenção em um jornal em específico sentiu todo seu medo vir a tona: Ali estava, o rosto que Eduarda desenhara.

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